Congresso tem painéis sobre liberdade de expressão, racismo e violência contra a mulher
O quinto dia do I Congresso Digital Nacional da OAB
confirmou seu caráter amplo e transversal ao promover debates de ideias, tendo
como ponto de partida as reflexões sobre as repercussões da pandemia no direito
e seus impactos na sociedade. Nesta sexta-feira (31), o painel “Liberdade de
Expressão e Acesso às Informações” foi conduzido pelo presidente nacional da
OAB, Felipe Santa Cruz, com a participação do advogado e professor, José
Roberto de Castro Neves, e dos jornalistas Pedro Bial e Mônica Bérgamo.
Santa Cruz abriu a conversa ressaltando a discussão ampla realizada
no congresso. “Pensar esse evento somente pelo prisma jurídico seria de um
isolacionismo absurdo. Por isso mentes brilhantes de outras áreas têm nos dado
a honra de fomentar o debate amplo. Para falar de liberdade de expressão, dois
expoentes do jornalismo contemporâneo foram escolhidos a dedo: esse dínamo que
é Mônica Bérgamo e essa referência sensível e poética que é Pedro Bial”, disse
Santa Cruz.
O apresentador Pedro Bial apontou que, na discussão das
liberdades e do direito de ir e vir, todos os cidadãos têm um pouco de promotor
e de réu. “Às vezes são questões prosaicas que garantem o que é o lugar
inviolável do indivíduo e o que é o lugar público. É necessário fazer a
distinção do que é uma pessoa pública do que é uma pessoa envolvida no poder
público. Esta segunda, na minha visão, ocupa uma posição que impõe sua abertura
ao escrutínio geral, enquanto a primeira – que se torna pública por sua
atividade – suscita em nós a discussão. É difícil estabelecer os parâmetros do
que é curiosidade pública do que é interesse público. A liberdade de expressão
existe para que o mercado de ideias seja constantemente abastecido de novas
ideias, por mais esdrúxulas e ridículas que possam parecer”, afirmou Bial.
A colunista Mônica Be´rgamo indagou sobre os limites do
direito de privacidade e do direito à informação na atividade jornalística.
“Isso foi muito discutido na recente questão das biografias não autorizadas,
que acabaram por ser permitidas aqui no Brasil. Assim como na época da invenção
da prensa móvel, a internet surgiu rodeada de boas esperanças. Muita coisa boa
se concretizou, é inegável, mas a reboque veio muito dissenso, muita
discordância. O discurso da liberdade pode servir para muitas coisas nefastas.
Porém, todos os discursos devem ter espaço, até o limite em que não silenciem
os discursos dos outros”, disse Bérgamo.
Racismo
O painel “Lugar do Racismo Institucional e do Racismo
Estrutural no combate a pandemia do novo coronavi´rus”, reuniu alguns dos
maiores especialistas do país no tema, em um debate fundamental para a
democracia e para as relações políticas, sociais e jurídicas no país. As
discussões foram feitas pelo advogado Adilson Jose Moreira, doutor em Direito
Constitucional (Harvard e UFMG); Preto Zezé, presidente global da Central Única
das Favelas; e Silvio Luiz de Almeida, presidente do Instituto Luiz Gama. O
conselheiro federal e presidente do ICEDE, André Costa, foi o moderador.
Sílvio Almeida lembrou da história da OAB e do papel que a
instituição sempre teve nos debates dos grandes temas do país. Para ele, o
mundo pós-pandemia vai exigir novos posicionamentos firmes da entidade e um
debate mais intenso acerca de temas como democracia, desigualdade e racismo. “A
pandemia nos desafia a pensar os grandes problemas históricos que o Brasil
enfrenta e OAB sempre esteve na linha de frente de todas as grandes questões e
dos debates políticos da história do país. A questão racial será fundamental
para o pós-pandemia e será necessário debater, de forma firme, para que a
entidade consiga ser um instrumento de promoção da democracia e se afirme como
tal”, afirmou.
Violência contra a mulher
A violência contra a mulher pode ser considerada uma
“pandemia dentro da pandemia” segundo as participantes do painel “A violência
doméstica contra a mulher na pandemia”. A afirmação pode ser amparada por dados
do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos que mostram aumento
de 44% no número de denúncias feitas pelo 180 e um aumento médio de 22% no
número de feminicídios nesse período.
Para as painelistas, apesar dos avanços nos instrumentos
normativos e dispositivos legais para tratar do problema, a resposta foi lenta
– uma vez que a Lei 14.022, que dispõe sobre medidas de enfrentamento à
violência, só foi sancionada em julho deste ano, quatro meses após o início da
crise. “O que temos de mais grave na questão do enfrentamento à violência
contra a mulher não é a falta de lei. É uma falta de cultura em relação à
importância desse tema. Mas, se é assim, existe uma cultura que podemos mudar”,
pontuou a vice-presidente da Comissão Nacional da Mulher Advogada, Alice
Bianchini.
Também foram abordadas questões como as dinâmicas de
violência contra a mulher negra, a necessidade de mecanismos de controle e
educação entre outros. O painel foi moderado pela presidente da Comissão
Especial de Igualdade Racial da OAB Nacional, Sílvia Cerqueira. Também
participaram do debate a vice-presidente da OAB-PI, Alynne Patrício de Almeida
Santos e a presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB-SP, Cláudia
Patrícia de Luna Silva.
Criatividade
Outro assunto debatido no congresso foi “A crise e´ sinônimo
de criatividade para as pessoas de sucesso”. A moderação da explanação foi do conselheiro
federal da OAB e corregedor adjunto da OAB Nacional, Luiz Rene Gonçalves do
Amaral, e as palestras tiveram à frente o master coach Felipe Lima, o advogado
Paulo Nicholas e a especialista em produtividade, Tathiane Dea^ndhela.
O painel debateu as oportunidades que podem surgir durante a
crise. “Estamos em um ponto de inflexão nas nossas vidas. Daqui a pouco faremos
parte de um capítulo do livro de história. É dentro da crise que aparecem as
oportunidades que, muitas vezes, queremos encontrar. É o momento de fortalecer
os laços de amizades e da família, de se reinventar. O sucesso e a oportunidade
vêm de dentro”, disse Paulo Nicholas, ao mencionar que, para o jovem advogado, esse
pode ser o momento de evoluir.
Ao falar sobre produtividade, Tathiane Dea^ndhela contou
que, muito embora atualmente escreva livros sobre o assunto, não era uma pessoa
produtiva no início da sua carreira, mas passou a se dedicar e melhorar por
meio do estudo. “A minha principal fraqueza se tornou a minha maior fortaleza.
Temos a liberdade de escolher como vamos reagir independente das
circunstâncias”, destacou a autora do livro “Faça o tempo trabalhar para você”.
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