A pioneira Cléa Carpi

A gaúcha Cléa Carpi foi muitas vezes a “primeira”. 

Foi a primeira mulher a assumir a presidência do Centro Acadêmico André da Rocha da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); a primeira mulher a assumir a presidência da OAB-RS, a primeira (e única) a receber a medalha Rui Barbosa.

Questionada sobre o que motivou o seu pioneirismo, afirma que “a minha trajetória de 87 anos de vida, com belas vivências de lutas e esperanças, nasceu a partir da minha intensa participação nos movimentos estudantis, nos quais atuávamos com um fervor e uma energia capaz de nos tornar inquietos e rebeldes, mas ao mesmo tempo sensíveis e ternos perante a vida, tendo no coração a acolhida do bem comum”.

A história de Cléa Carpi é marcada pelo pioneirismo, pela defesa dos direitos humanos, pela defesa do Estado Democrático de Direito e no processo de redemocratização do Brasil, nos movimentos Diretas Já, pela anistia e pelo espaço igualitário na OAB.

Neste 8 de março, o Conselho Federal da OAB presta homenagem a Cléa Carpi e a todas as advogadas, reconhecendo sua dedicação e compromisso com a advocacia e com a equidade de gênero. 

Medalha Rui Barbosa

Nascida em Guaporé, Cléa Carpi tem 87 anos. Ela recebeu a Medalha Rui Barbosa, a maior honraria da advocacia brasileira, na cerimônia de encerramento da 23ª Conferência Nacional da Advocacia Brasileira, em 2017, realizada em São Paulo (SP). A homenagem tem como objetivo reconhecer juristas por serviços prestados à cidadania e à advocacia. Ela é a única mulher, até hoje, que recebeu a comenda.

“Esse reconhecimento, que muito me honra, somente foi possível em razão da força das bravas advogadas que, unidas, firmaram minha indicação para receber a Medalha Rui Barbosa, comenda máxima conferida pelo Conselho Federal e instituída em 1957, que leva nome do patrono da advocacia brasileira”, diz Cléa Carpi.

A indicação ocorreu em 2016, durante a 2ª Conferência Nacional da Mulher Advogada, realizada em Belo Horizonte (MG), ano instituído pela OAB como o “Ano Nacional da Mulher Advogada”. 

“O movimento cresceu e, colhido o apoio do Colégio de presidentes da 27 seccionais e de ex-presidentes nacionais, obteve a aprovação unânime do Pleno do Conselho Federal”, relembra a advogada. “Assim é que, na 23ª Conferência Nacional da Advocacia, realizada em São Paulo, no ano de 2017, fui agraciada com a Medalha Rui Barbosa, e pude compartilhar com as colegas e os colegas a minha emoção e o meu agradecimento, os quais continuam presentes em meu coração até os dias de hoje”, enalteceu.

Paridade de gênero e valorização

A luta pela maior inclusão de mulheres no Sistema OAB também foi uma das bandeiras de Cléa Carpi. Em sua longa trajetória de Ordem, a conselheira afirma que a inserção da  mulher advogada nos órgãos de decisão da OAB foi lenta, embora “tendo sempre presente em todos os seus anos de existência a inteligência, capacidade, energia, dinamismo, conhecimento e atuação firme da mulher advogada na própria OAB”.

“Estamos a caminho, mas a marcha é coletiva e exige a presença atenta e constante de todos nós, advogadas e advogados, pois como disse certa vez Bento Gonçalves, herói da Revolução Farroupilha: ‘A causa que defendemos não é só nossa, ela é igualmente a causa de todo o Brasil’”, diz.

Entre as ações da OAB para consolidação da paridade, Cléa Carpi destaca o movimento “Paridade da OAB”, que percorreu as seccionais durante o ano de 2020, com encontros e palestras virtuais, mesmo com a pandemia de Covid-19. “A paridade foi aprovada, em memorável sessão do Conselho Federal em 14 de dezembro de 2020, data para sempre guardar, com especial destaque para o trabalho extraordinário da então presidente da Comissão Nacional da Mulher Advogada (CNMA), Daniela Borges, que nos comandou com firmeza e alegria”, enfatizou.

Além da paridade, a OAB tem se empenhado em garantir o pleno desempenho profissional das advogadas. O Plano Nacional de Valorização da Mulher Advogada concentrou-se em identificar as dificuldades enfrentadas pelas mulheres na atividade profissional. Em conjunto com a defesa de suas prerrogativas, foram elaboradas propostas para apoiar o exercício da advocacia feminina e implementar condições diferenciadas nos serviços prestados pela Caixa de Assistência dos Advogados, visando atender às necessidades específicas da mulher advogada. “Todavia, as dificuldades persistem, e a nossa OAB deve continuar atenta e vigilante”, pontuou.

Para as advogadas, novas advogadas e futuras advogadas, Cléa Carpi deixa uma mensagem:

“Nas palavras do poeta espanhol Antonio Machado, “o andar é que faz o caminho”, mas, queridas colegas, sabemos que os caminhos não são fáceis e que a luta é feita de embates. Por isso, devemos sempre ter presente o compromisso que prestamos ao recebermos nossa carteira profissional, lembrando que somos defensoras da cidadania, exercendo nossa profissão com perseverança e fé, despejando alegria e acolhida, agasalhando sempre a esperança e sem nunca esmorecer”, finalizou. 


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