Artigo: "Não consigo respirar!"
“Can’t breath” (Não consigo respirar!). Essas foram as últimas e repetidas palavras ditas por George Floyd, 46 anos, vítima fatal do racismo e da brutalidade policial, na noite de 25 de maio, em Minnesota/Estados Unidos. Mais uma vez, um homem negro, desarmado, implorou a um policial branco para viver, mas foi friamente assassinado. Na ocasião, George, preso por ser suspeito de usar uma nota falsa de US$ 20 em uma loja de conveniência, foi algemado e teve o pescoço prensado contra o asfalto pelo joelho do policial até a morte. As cenas e os apelos de Floyd foram gravados por uma desconhecida que passava pelo local. O vídeo espalhou-se nas redes sociais mundiais.
“Não consigo respirar”, de Floyd, lembrou o bárbaro homicídio de outro negro americano, em 2014: Eric Garner, estrangulado por um guarda branco em Nova York. Garner, que era suspeito de vender cigarros individualmente sem autorização, morreu devido a um ataque de asma causado pelo mata-leão. Sufocado, repetiu 11 vezes: “Eu não consigo respirar” (“I can’t breath”).
No Brasil, as mortes de Floyd e de Garner, mais que as legítimas indignação e solidariedade à comunidade negra estadunidense, deveriam fazer refletir sobre a situação das pessoas negras em nosso País: são as vítimas preferenciais da desigualdade de renda, de riqueza e de direitos, do preconceito e da discriminação raciais e da violência estatal. A proclamada democracia racial é um mito. O racismo não é exclusividade dos Estados Unidos. Faz parte da nossa História, marcada por 358 anos de escravização da população negra e pela secular negação do respeito à diversidade cultural.
Sim, somos todos brasileiros, mas esse fato não apaga as díspares realidades. A cor da pele e o estereótipo definem o lugar social, a vida e a morte na nossa nação: anualmente, cerca de 45 mil pessoas negras são assassinadas, dentre elas, muitas crianças e adolescentes. Não é à toa que Elza Soares canta: “A carne mais barata do mercado é a carne negra”. E para alterar tudo isso, alerta Ângela Davis, “em uma sociedade racista não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”, afinal “vidas negras importam”!
Por André Costa, conselheiro federal da OAB pelo Ceará
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