Artigo: "Quarenta anos de D.Lyda: Presente!"

Na maior parte destes 40 anos, sofri mais do que a perda da minha mãe pela ação terrorista. Também sofri muito pelo descaso dos governos – tanto no início, por terem feito de tudo para impedir a apuração, quanto posteriormente, por terem fechado os olhos para a impunidade, porém estava convicto de que ninguém poderia me tirar o direito de saber quem a matou.

Desde o episódio do Riocentro, quando o atentado planejado pelos militares fracassou, eu sabia que esta operação estava vinculada ao atentado à OAB. Na época, aqueles que tentaram cometer o maior genocídio da história do Brasil foram premiados pelo governo militar. O Sargento Rosário foi enterrado com honras Militares e o Capitão Wilson chegou a Coronel.

Infelizmente, na época, até parte da oposição se calou em troca da garantia das eleições de 1982, como se fosse possível construir uma sólida democracia com atitudes mascaradas, posições escamoteadas, mentiras e falsidades. Este é o resultado de terem jogado o lixo por baixo do tapete. 

Hoje temos como integrantes e apoiadores do Governo Brasileiro parte daquele grupo fascista que se opunha à democracia e defendia meios violentos para repudiá-la.

Aliás, a expressão fascismo, largamente utilizada nos dias atuais, tem, no caso, um sentido sociológico-político e nomeia aqueles que não admitem quem pensa diferente pois exigem que toda a sociedade adote os seus valores, usam a ofensa moral e a violência física para fazer prevalecer as suas idéias, extrapolam os limites da liberdade de expressão e não acreditam na democracia.

Pois são os mesmos que, premiados pela impunidade após a Ditadura Militar, estão de volta nas várias esferas de poder e pior, com algum respaldo popular. Vale registrar que os alemães comemoram o “Dia D”, que representou o final da II Guerra Mundial, não como derrotados mas como vitoriosos pois, nesta data, foram libertados do domínio Nazista.

Esta é a lógica que deve nortear os nossos militares pois, com a redemocratização do país, também foram libertados dos comandantes ditadores, torturadores e desse grupo de terroristas que integrou as Forças Armadas por tantos anos.

Felizmente, em 2015, graças à Comissão Estadual da Verdade, instituída pela OAB-RJ, a história foi restabelecida. Já vi meus filhos mais velhos estudarem o caso do atentado à OAB no ensino médio, porém não havia desfecho apresentado nos livros escolares. Agora meus filhos menores, quando chegarem lá, terão a história completa com todos os elementos devidamente registrados para que o Brasil nunca esqueça. Essa foi a minha bandeira de todos esses anos.

Ainda que os militares, autores do atentado, não possam ser criminalmente responsabilizados, os seus nomes foram lançados publicamente como responsáveis por um dos crimes considerados mais hediondos por qualquer nação civilizada: o terrorismo.

Não guardo ódio, rancor ou qualquer sentimento de vingança por tudo que passei e tenho orgulho de ter superado o mais difícil de todos os desafios nesses quarenta anos: Nunca tentei revidar pelos mesmos meios, jamais me tornei um deles pois sempre acreditei no Direito e na solução pacífica dos conflitos.

Por isso, apelo a todos os democratas que nunca desistam dessa luta. A boa política é a arte do convencimento e da persuasão. Precisamos resgatar aqueles que ficaram no lugar do ódio, do preconceito, da negação da ciência e trazê-los para o lugar da democracia, da igualdade e da solidariedade. Acredito fortemente que esses valores nos tornam pessoas melhores, e foi com eles que eduquei os meus filhos, netos de D. Lyda.

Luiz Felippe Monteiro Dias, filho de d. Lyda 


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