OAB discute o combate à criminalidade com garantia do direito de defesa

A OAB Nacional promoveu, nesta quarta-feira (18), o Encontro
Nacional do Direito de Defesa. Nomes de destaque da advocacia criminal,
jornalistas e magistrados debateram formas de enfrentar a criminalidade e a
corrupção sem transgredir os preceitos constitucionais, as garantias dos
cidadãos e o direito à ampla defesa.

O presidente da Comissão Especial de Garantia do Direito de
Defesa da OAB Nacional, Juliano Breda, citou aspectos que, segundo ele,
configuram tentativas claras de atentado à advocacia por ser ela a adversária
dos regimes totalitários. Breda enumerou as tentativas legislativas de
restringir a atuação profissional do advogado e destacou a necessidade de uma
advocacia criminal cada vez mais unida.

O vice-presidente nacional da OAB, Luiz Viana, também pregou
a união da advocacia e reafirmou o compromisso da Ordem em agregar todos que
queiram dividir bons princípios, valores e bandeiras. “Na minha perspectiva
como advogado, cidadão e dirigente de Ordem, a OAB tem me servido como porto e
farol. Nesse momento de tanta divisão no país, é necessária uma orientação do
caminho a se seguir e acredito que a OAB cumpra esse papel”, afirmou.

Além deles, a mesa de abertura contou com os presidentes da
Comissão Nacional de Defesa das Prerrogativas, Alexandre Ogusuku, e da Comissão
Nacional de Legislação, Ticiano Figueiredo; da conselheira federal decana da
OAB, Cléa Carpi da Rocha; do presidente da OAB-DF, Délio Lins e Silva; do
presidente da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (Abracrim),
Elias Mattar Assad; da presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB),
Rita Cortez; e do presidente da Associação dos Advogados Criminalistas do
Distrito Federal, Bruno Espiñeira.

Conferência Magna

O advogado Gustavo Badaró, membro da Comissão Especial de Garantia
do Direito de Defesa, proferiu a conferência de abertura. Ele abordou o direito
de defesa no âmbito das reformas processuais penais e criticou o volume de
alterações legislativas sobre os tipos penais no Brasil. Badaró alertou para o
sufocamento do direito de defesa de acusados pela exposição de seu patrimônio
material e falou, ainda, sobre o crescimento das minirreformas penais feitas
por alteração jurisprudencial, sobre presunção de inocência e colaboração
premiada.  

Painéis

O primeiro painel tratou da seletividade do sistema penal
sob a ótica do direito de defesa do réu pobre. A advogada Caroline Bispo e o
defensor público Pedro Carrielo foram os palestrantes. Bispo falou sobre o
projeto De Olho na Maré, iniciativa que busca garantir o direito à segurança
pública e o acesso à justiça. Além disso, criticou o encarceramento em massa da
população negra. Já o defensor enfatizou que o pobre é alvo de sentenças
automatizadas, numa produção quase ‘fordista’ de condenações.

Já o segundo painel debateu os deveres éticos da defesa na
colaboração premiada. O coordenador do Observatório de Liberdade de Imprensa da
OAB Nacional, Pierpaolo Bottini, manifestou preocupação com indefinições como
os benefícios envolvidos nas delações, circunstâncias da não litigância e até
mesmo sobre a força probatória da colaboração. O conselheiro federal Guilherme
Batocchio ressaltou que o arcabouço legal no tocante ao tema é satisfatório,
porém há uma cultura de má aplicação da lei.

O painel seguinte abordou a imparcialidade do Judiciário, a
paridade de armas e o direito de defesa. O vice-presidente da Comissão Especial
de Garantia do Direito de Defesa da OAB Nacional, Ademar Rigueira Neto, apontou
a paridade de armas como um princípio-vetor, que, segundo ele, não pode sofrer
cerceamento ou violações. Rigueira também falou da banalização de prisões
preventivas, conduções coercitivas e prisões temporárias no inquérito.

No quarto painel foi abordado o tema da pressão popular e
midiática sobre os juízes e magistrados. O advogado Nabor Bulhões afirmou que
os juízes devem ser manter firmes, longe das pressões, apesar do bombardeio
midiático. O ministro do Superior Tribunal de Justiça, Sebastião Reis, destacou
que o magistrado, na maioria dos casos, está sempre em posição inferior no
embate e no relacionamento com a imprensa, até porque precisa respeitar e se
manifestar sempre nos autos do processo.

No último painel, houve a apresentação do Innocence Project,
com as advogadas Dora Cavalcanti e Flávia Rahal, que atuam em casos de revisão
de condenações e conseguem tirar da prisão pessoas que tinham sido condenadas
de forma equivocada. Dora Cavalcanti afirmou que já recebeu mais de mil casos e
conseguiu examinar cerca de 550, com duas reversões de condenações. “Agradeço
inclusive a citação feita pelo presidente Felipe Santa Cruz acerca do nosso
projeto, o que é sempre um grande incentivo para os mais de 2 mil voluntários
que fazem parte”, afirmou Dora.

Por fim, houve ainda um debate de advogados criminalistas
com as jornalistas Mônica Bergamo e Bela Megale, sobre imprensa livre,
processos midiáticos e presunção de inocência. Foram destacados ainda aspectos
da cobertura jornalística de grandes casos e investigações, como a Lava Jato, e
como garantir espaço proporcional nesses casos para as falas da acusação e da
defesa.


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