Santa Cruz e Neca Setúbal debatem sobre investimento social no Papo em Ordem
O presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, recebeu a presidente da Fundação Tide Setúbal, Maria Alice Setúbal, mais conhecida como Neca Setúbal, em mais uma edição do Papo em Ordem, realizada nesta quarta-feira (29). Neca é cientista social pela USP, mestre em ciência política e doutora em psicologia pela PUC. Os dois abordaram diversos temas na entrevista, como educação, democracia, participação da sociedade civil, investimento social, políticas públicas e desigualdade social no Brasil.
Felipe Santa Cruz destacou que o objetivo da série de entrevistas é fomentar o debate e ouvir representantes de diferentes instituições acerca dos problemas do país. Com a participação de Neca Setúbal, a Ordem traz para o debate questões relacionadas ao investimento social. “Essa foi uma forma que criamos de conversar e de manter o diálogo com a sociedade brasileira. Uma das funções da OAB é ser essa ponte com a sociedade, com as lideranças e com os diferentes setores. A Neca Setúbal é uma dessas referências, principalmente quando abordamos educação e investimento social”, afirmou Santa Cruz.
A presidente da Fundação Tide Setúbal começou o bate-papo abordando um histórico da filantropia e do investimento social no Brasil. Ela afirmou que a pandemia da covid-19 fez o país enxergar as enormes desigualdades sociais, trazendo um sentimento de responsabilização para todos, e a necessidade de encarar esse desafio. “A pandemia trouxe, todos os dias na mídia, as condições precárias em que a maior parte da nossa população ainda vive. A desigualdade é de séculos, mas agora a sociedade enxergou isso e despertou essa responsabilização para fazer alguma coisa a respeito. Tivemos um montante maior de doações sim, mas, mais do que isso, a pandemia trouxe a conscientização para muitas empresas, famílias e pessoas que não tinham esse olhar”, explicou.
Neca Setúbal e o presidente da Ordem destacaram ainda que a participação maior de empresas e pessoas em redes de assistência não isenta o papel do poder público e dos programas assistenciais. A cientista social lamentou a falta de políticas e de projetos. “Todo esse investimento social não vem para substituir o Estado. O fato de você ampliar o campo do investimento privado é algo complementar e deve estar articulado com as políticas públicas. Não temos neste governo federal uma política de educação, de direitos humanos, ambiental ou de saúde. Temos iniciativas fragmentadas que não dão conta do que é o Brasil. É dramática a situação de um governo que não apresentou propostas e que não tem políticas”, complementou.
Sobre o tema educação, Neca falou sobre as dificuldades de acesso dos alunos mais carentes. Na avaliação dela, no início da pandemia, ouve uma ilusão de que todos os estudantes estariam conectados. Entretanto, a realidade mostra uma enorme dificuldade de acesso à internet pelos estudantes. “Ficamos iludidos, achando que o Brasil estava conectado, mas não era uma conexão suficiente para trabalhar online e para crianças de periferia terem acesso às aulas. A gente tem que se dar conta que a internet é um direito, não dá mais para viver sem. Tivemos iniciativas das fundações privadas nesse sentido, mas a realidade é dramática. O retrocesso na pandemia veio em todas as classes, mas é ainda mais dramático na escola pública”, afirmou.
Apesar das dificuldades impostas pela pandemia, Neca Setúbal se disse otimista com o futuro e abordou ainda a importância de políticas de inclusão de minorias. O presidente da Ordem falou sobre as recentes ações da OAB nesse sentido, como a paridade de gênero e as cotas para negros nas próximas eleições da entidade. “Estamos avançando e também vejo com muito otimismo essa movimentação nas empresas, a pressão para que elas atuem além do seu lucro, de que elas precisam também ter um papel social”, encerrou Neca Setúbal.
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