“Sociedade é estruturada no patriarcado e no racismo”, diz Santa Cruz sobre desafios das advogadas negras
A OAB Nacional realizou, nesta sexta-feira (24), o debate virtual Desafio das Advogadas Negras no Exercício da Profissão, transmitido no canal da entidade no YouTube. Juristas analisaram e discutiram os aspectos que se impõem às advogadas na condição de mulheres e negras.
O presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, fez o pronunciamento de abertura. “Esse evento não servirá como história de ninar para aqueles que hoje ocupam simbolicamente a Casa Grande, e sim para incomodá-los em seus sonos injustos. Ciente do meu lugar social, de homem, branco, dotado de todos os privilégios assegurados pela branquitude à minha classe e à minha raça, estou certo de que devemos reconhecer e respeitar a posição de sofrimento da vítima de racismo e assegurar seu protagonismo histórico na pauta. Por outro lado, a omissão é uma posição política cômoda e, sobretudo, desumana. Devemos refletir sobre a responsabilidade das pessoas brancas nessa luta e nos colocarmos como parceiros nas relações raciais”, apontou Santa Cruz.
“Registro aqui, enquanto presidente nacional da OAB, o meu compromisso ético, moral, político e existencial com a luta antirracista, com os devidos recortes de gênero. O racismo é o ponto cego e silencioso da sociedade brasileira, mas isso não garantiu nenhuma política de inclusão da população negra na sociedade. Fomos o último país do Ocidente a abolir a escravidão, e mesmo assim o racismo continua natural, sistematizado e culturalmente estabelecido em nossa realidade. Os negros são minoria em cargos gerenciais e a maioria das vítimas de homicídio”, disse o presidente.
Santa Cruz lembrou que as mulheres negras e pobres são as maiores vítimas da injustiça social que gera a violência e a discriminação no Brasil. “Por isso precisamos questionar a naturalização da violência de gênero dentro dos espaços institucionais. O tema das mulheres negras é central, pois é um termômetro da sociedade. Vivemos em uma sociedade estruturada no patriarcado e no racismo”, afirmou.
Leia a íntegra do discurso de Felipe Santa Cruz no evento
A presidente da Comissão Nacional da Promoção da Igualdade, Silvia Cerqueira, criticou o preconceito de qualquer natureza. “É necessário concretizar essas demandas, tão necessárias, que se revelam em comentários diários desagradáveis e desnecessários. Não basta combatermos o racismo, temos que ser antirracistas. O preconceito de raça e de gênero tira do ser humano a possibilidade de sobrevivência”, destacou.
A presidente da Comissão Nacional da Mulher Advogada, Daniela Borges, falou em seguida. “Muitas vezes vamos em nosso dia a dia criando ilusões de que não fazemos parte das estruturas que alimentam nossa sociedade racistas. Não é por não ter atitudes ostensivas de racismo que nãos contribuímos com isso tudo. Precisamos, enquanto não negros, assumir uma posição ativa nesse cenário de desconstrução. A mulher advogada e negra precisa estar em outras comissões da Ordem que não aquelas relacionadas à igualdade e à mulher”, ressaltou.
O presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, Humberto Adami, destacou que as questões do racismo e do machismo são intrínsecas à cultura social brasileira. “A comissão que tenho a honra de presidir está diuturnamente irmanada às comissões da Promoção da Igualdade e da Mulher Advogada nessa luta. Os achincalhos e crimes contra as causas feminina e negra continuarão existindo, e nosso papel é fazer o que sempre fizemos: resistir com a pauta das ações afirmativas”, disse Adami.
Também participaram da mesa de abertura a membro consultora da Comissão Nacional da Mulher Advogada, Mariana Lopes; a vice-presidente da OAB-MG, Helena Delamônica; a tesoureira da Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica, Nilza Fátima da Silva; a presidente da Federação Internacional de Carreira Jurídica, Osvalda Joana; e a diretora de Igualdade Racial da OAB-RJ, Ivone Caetano.
Ao longo dia, os painéis do evento promoverão o debate sobre temas de destaque: Pautas da Advocacia Negra; Racismo Estrutural; Advocacy, a Reparação da Escravidão no Recorte de Gênero no Brasil e Novas Oportunidades no Exercício da Advocacia pela Mulher Advogada Negra; Exercício da Advocacia pela Mulher Advogada Negra e Prerrogativas; e a mesa redonda de debates sobre Feminismo Negro, Discriminação Racial e Desafios da Mulher Negra.
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